Resenha - Helena

Titulo: Helena

Autor: Machado de Assis

Editora: L&PM Pocket

Nº de paginas: 224

Este romance faz parte da primeira fase do escritor, a qual ele ainda está preso a estética vigente, o Romantismo, descrevendo de forma idealizada a heroína – um anjo na terra – e enaltecendo a moral e os bons costumes. Somente em alguns momentos vislumbramos o estilo que o tornaria célebre: na descrição dos personagens, como o doutor Matos e o doutor Camargo; no enfado de Estácio quando é obrigado a viajar com Eugênia para velar uma madrinha rica e moribunda – enxergamos laivos de Brás Cubas; até mesmo ambiguidade de Helena – triste e, num piscar de olhos, alegre – seria o gérmen de Capitu? Acabam aí as semelhanças. Helena é a filha ilegítima do conselheiro Vale, descoberta pela família – a irmã, dona Úrsula, e o filho, Estácio – na abertura do testamento quando da morte do conselheiro que a reconhece e, como último pedido, quer que ela viva com a família na chácara de Andaraí. Dona Úrsula aceita, mas de malgrado. Estácio fica feliz com a atitude do pai e por ganhar uma irmã. Helena chega e sua encantadora figura conquista a quase todos. No entanto, ela guarda um misterioso segredo que vai tumultuar a paz e a harmonia do lar.

Olá pessoal, tudo bem?
Hoje estou aqui para falar sobre “Helena”, uma obra de um grande escritor, Machado de Assis. Vários colegas meus já tinham lido esse livro durante o colegial, mas eu infelizmente ainda não tinha tido a oportunidade.
Pensando bem... infelizmente não... eu diria felizmente... sabe por quê?
Porque hoje lendo Machado de Assis, lembro o quanto eu e meus amigos não gostávamos de ler suas obras ou de outros grandes escritores, como José de Alencar e Fernando Sabino.
Atualmente vejo, que em grande parte dos casos, o problema não era nem os livros nem nós jovens leitores. O problema é que as obras, em sua maioria, não condiziam com a nossa idade, linguagem ou interesses. Éramos imaturos para aquelas belas histórias.
Dessa vez foi diferente, as palavras de Machado realmente me tocaram.
Esse doce e surpreendente romance não deixa nada a desejar, na minha opinião, em relação a outros maravilhosos e tão conhecidos como os de Jane Austen por exemplo.
A trama ocorre no século XIX, no Rio de Janeiro, e inicia quando o conselheiro Vale morre e além do testamento, também deixa para a sua irmã Úrsula e para o filho Estácio a notícia de uma filha ilegítima, Helena.
Vale ordena que a moça seja trazida para junto da família, mais especificamente para dentro de casa, e obtenha seus direitos por completo, tanto monetários quanto afetivos.
A história desenrola-se diante dessa nova e inusitada situação, Helena chegando na residência, a desconfiança inicial das pessoas e a ausência de maiores explicações. Aos poucos as relações vão se estreitando e todos vão se “apaixonando” pela jovem senhorita.

“Nenhum deles procurara esse contato de suas almas, mas nenhum fugiu. O que eles disseram um ao outro, com os simples olhos, não se escreve no papel, não se pode repetir ao ouvido; confissão misteriosa e secreta, feita de um ao outro coração, que só ao céu cabia ouvir, porque não eram vozes da Terra, nem para a Terra as diziam eles.”

Nem mesmo sua pouca idade, ocultava a sua forte personalidade e extrema inteligência. Volta e meia Helena deixava todos a sua volta abismados com suas profundas reflexões, hora esperançosas, hora melancólicas.
Diante disso, lentamente começam a ser revelados alguns segredos em relação ao passado e aos sentimentos da família.
Os pequenos capítulos que constituem a obra, fluem de forma dinâmica e deliciosa, nos prendendo do início ao fim.
Não poderei falar muito da história, pois tem muita chance de eu acabar dando algum spoiler... e detestaria acabar com qualquer surpresa. Para quem pretende ler, muito cuidado com as sinopses encontradas na internet, elas revelam todos os mistérios, sem dó nem piedade! Acho que as pessoas confundem sinopse com resumo, só pode ser.
Também mergulhei completamente na história devido a linguagem própria da época, em torno de 1850, e o seu peculiar vocabulário.
O final é inexplicavelmente inesperado e emocionante... uma daquelas histórias que ficam ecoando dentro da gente mesmo depois da última página ter chegado ao fim... é um sentimento de impotência, em que você quer mergulhar dentro do livro e alterar o rumo das coisas, salvar os personagens e junto com eles toda a humanidade.

Beijos Literários