9 de junho de 2015

Resenha - Mentirosos


Título: Mentirosos
Autor: E. Lockhart
Páginas: 272
Editora: Seguinte

Os Sinclair são uma família rica e renomada, que se recusa a admitir que está em decadência e se agarra a todo custo às tradições. Assim, todo ano o patriarca, suas três filhas e seus respectivos filhos passam as férias de verão em sua ilha particular. Cadence - neta primogênita e principal herdeira -, seus primos Johnny e Mirren e o amigo Gat são inseparáveis desde pequenos, e juntos formam um grupo chamado Mentirosos. Durante o verão de seus quinze anos, as férias idílicas de Cadence são interrompidas quando a garota sofre um estranho acidente. Ela passa os próximos dois anos em um período conturbado, com amnésia, depressão, fortes dores de cabeça e muitos analgésicos. Toda a família a trata com extremo cuidado e se recusa a dar mais detalhes sobre o ocorrido… até que Cadence finalmente volta à ilha para juntar as lembranças do que realmente aconteceu.


É comum existir um círculo fechado em famílias ricas e tradicionais. Ainda mais quando a linhagem é mantida dentro da mesma raça devido a preconceitos de classes e raciais. Por isso, Harry, o patriarca sexagenário da família Sinclair, não gosta quando Carrie, uma de suas três filhas, após ser abandonada pelo marido, começa a namorar Ed, um comerciante de ascendência indiana.

Carrie e as outras duas filhas de Harry, Bess e Penny, possuem filhos: Johnny e Wil, são filhos de Carrie; Mirren, Liberty, Taft e Bonnie, são filhos de Bess; e Cadence é filha de Penny. Aos oitos anos, Johnny, Cadence e Mirren são melhores amigos. Acostumados com a rotina da ilha, eles se espantam quando Carrie chega acompanhada de Ed e por Gat, um garoto de pele morena e cabelos escuros. Cadence é a primeira a se aproximar do garoto, e logo se apaixonam. Os quatro, devido às confusões que arrumam na ilha, começam a ser conhecidos de os Mentirosos pela família.

Mas Harris, dono do dinheiro e da decisão de para quem deixará a maior parte de sua herança depois que morrer, sente desprezo por Gat. Ainda mais quando acompanha a aproximação dele de Cadence, a primeira neta, a mais velha e sua preferida.

Os quatro garotos buscam na amizade que cresce com o passar dos verões, única época em que se encontram, aguentar a pressão das mães para se tornarem favoritos de Harry pela herança. E Harry se aproveita do poder sobre as filhas fazer fazê-las sofrer e se humilhar.

Gat é o ponto forte e fraco da amizade entre Cadence, Johnny e Merrin. Isso porque ele matém o quarteto unido, mas, ao mesmo tempo, ilumina a verdadeira face de Harris.

Então, no verão em que os quatro completam quinze anos, o mesmo verão que a paixão entre Cadence e Gat aflora de maneira irreversível, o mesmo verão em que Harry flagra os dois jovens se beijando e solta uma ameaça velada sobre Gat, algo acontece. Cadence sofre um acidente, perde a memória dos últimos dias e fica dois anos longe da ilha. Quando retorna e reencontra os dois primos e Gat, tenta, com a ajuda deles, descobrir o que aconteceu e por que tudo está tão diferente e tão igual ao mesmo tempo.

A história é narrada em primeira pessoa por Cadence e, junto com ela, percorremos as páginas do livro em busca daquilo que ela esqueceu. Nesse processo, somos apresentados a uma constante sombra de dor. É o que se sente na maior parte da leitura. Uma angústia por algo que não sabemos. Uma premonição de que iremos sentir muita dor quando descobrirmos a verdade do que aconteceu naquele verão dos quinze anos.

As atitudes de Cadence refletem essa constante apreensão. Ela doa todas as suas coisas após o acidente. Ela se torna vazia, menos com sua amizade com Gat, Johnny e Mirren. Quando estão juntos na ilha, mesmo eles escondendo o que aconteceu com ela, Cadence pode ser ela mesma, pode sorrir. 

A escrita de Lockhart é apaixonante na mesma medida em que ela transmite uma carga enorme de emoção através de frases curtas, muitos pontos finais e quebras de linha, dando um tom de tragédia e de desespero que se estende por toda a história.

Mas Lockhart não escreve nenhum desses sentimentos de forma aberta. Ela é sutil. Ela coloca a carga emocional entre as linhas de seu texto, nas palavras bem escolhidas, ou até mesmo na falta delas. E quando descobrimos o que aconteceu, ficamos devastados pela constatação de que algumas decisões inconsequentes podem ser devastadoras. A emoção e a dor, junto ao carisma dos personagens, atinge o leitor com mão forte.


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