14 de julho de 2015

Resenha - Cidades de Papel

Título: Cidades de Papel
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 368

Nesse romance do premiado escritor John Green, o adolescente Quentin Jacobsen tem uma paixão platônica pela magnífica vizinha e colega de escola Margo Roth Spiegelman. Até que, certa noite, ela invade sua vida pela janela de seu quarto, com a cara pintada e vestida de ninja, convocando-o a fazer parte de um engenhoso plano de vingança. E ele, é claro, aceita. Assim que a noite de aventuras acaba e um novo dia se inicia, Q vai para a escola e então descobre que Margo desapareceu. No entanto, ele logo encontra pistas e começa a segui-las. Impelido em direção a um caminho tortuoso, quanto mais Q se aproxima de Margo, mais se distancia da imagem da garota que ele pensava conhecer.


No início de Cidades de Papel, Quentin, o personagem principal e narrador da história, diz o seguinte: “Na minha opinião, todo mundo tem seu milagre. (...) Meu milagre foi o seguinte: de todas as casas em todos os condados em toda a Flórida, eu era vizinho de Margo Roth Spiegelman.” Acho que a maioria das pessoas, se não todas, já encontraram alguém em suas vidas que consideram seu pequeno milagre pessoal. Aquela garota ou garoto que você acha que nunca esquecerá, por ser seu amor ou por ser sua melhor amiga ou amigo. A moral de Cidades de Papel acaba por ser essa: até que ponto uma pessoa é assim tão especial, tão importante? 

Após negar ajuda a Margo em uma situação logo no início do livro, a amizade dos dois quebra, e eles seguem caminhos separados. Nos anos seguintes, Quentin apenas idealizou o que Margo estava se tornando, uma vez que não sabia de verdade o que ela pensava nem por que fazia o que fazia, como fugir constantemente de casa para viver aventuras estranhas. No fim do colegial, Margo, do nada, decide pedir ajuda a Quentin novamente, num plano de 11 etapas que irá acertar as pendências da garota com vários desafetos. Quentin, desta vez, não consegue recusar. 

Toda a primeira parte de Cidades de Papel, que termina no desaparecimento de Margo, após a aventura noturna ao lado de Quentin, manteve meu interesse. Em determinados momentos, como na parte em que os dois estão no alto de um edifício, é romântica e conseguiu me fazer sentir empolgação pelo que eles estavam vivendo. 

"Gostava de sentir tédio. Não queria gostar, mas gostava. E assim, o cindo de maio poderia ter sido um outro dia qualquer – até pouco antes da meia-noite, quando Margo Roth Spiegelman abriu a janela sem tela  do meu quarto pela primeira vez desde que me mandara fechá-la nove anos antes."

Entretanto, após o desaparecimento de Margo, quando Quentin convence os dois amigos, Ben e Radar, a participarem da busca por pistas do paradeiro da garota por quem é apaixonado, eu senti apenas tédio. Tudo transcorre de forma tão extensa, maçante, com diálogos sem interesse para prender minha leitura, que, em diversos momentos, senti vontade de dormir. E tudo complica ainda mais quando os três amigos, mais Lacey, a melhor amiga de Margo, começam a desconfiar que a moça não é assim tão especial quanto imaginavam. 

Ao descobrirem o paradeiro de Margo, os quatro (Quentin, Ben, Radar e Lacey) inciiam uma viagem de 21 horas para chegarem até o local. Mas, a exemplo dos capítulos anteriores, o que acontece não chega a empolgar. As situações são narradas de forma mais apressada, o que alivia um pouco a falta de interesse. E quanto encontram Margo, se defrontam com uma explicação que é decepcionante. 

O que consegui abstrair de Cidades de Papel, e que é destacado de maneira bem contundente em diversas partes do livro, sem necessidade, uma vez que bastava apenas uma vez, são duas coisas: a superficialidade da vida da maioria das pessoas, que se entregam a uma rotina e a uma falsa ideia de que são felizes; e a decepção ao se descobrir que aquela pessoa que você idolatra tem todos os defeitos e faltas de qualquer outra. 

"Margo sempre adorou um mistério. E, com tudo o que aconteceu depois, nunca consegui deixar de pensar que ela talvez gostasse tanto de mistérios que acabou por se tornar um."

Quentin, apesar de quase perder a amizade de Ben e Radar por causa de sua fixação, consegue se soltar e aprender que a vida pode ser muito mais do que aquilo que nos limitam desde a infância. Que nós podemos ir além dos muros que achamos que existem ao nosso redor, e que nos mantém numa falsa segurança e num conforto de limitações. Mas ele aprende algo mais importante: ninguém é um milagre para ninguém. Os relacionamentos são baseados em interesses ou em dependências emocionais. Não existe aquela pessoa feita exclusivamente para você, para sua felicidade. Isso não aparece na sua frente, mas se constrói através de respeito, lealdade e amor verdadeiro. Por causa dessa mensagem, vale a pena enfrentar as muitas páginas maçantes de Cidades de Papel

Ah, e tem o filme. 

Bem, eu achei a versão cinematográfica muito superior. Aquilo que não encontrei nas páginas do livro de John Green, encontrei no cinema. A química entre Quentin, Ben, Radar e Lacey existe, é convincente, é engraçada e faz você rir em diversos momentos. A viagem deles empolga e entretém. E a aventura noturna ao lado de Margo é mais romântica e enigmática. Isso sem mencionar o final, que dignifica Quentin e esclarece que, apesar da decepção, existiu, sim, um enorme aprendizado e um fortalecimento da amizade dos quatro amigos. 

Também existe nos últimos segundos do filme, todo um diálogo em off de Quentin, enquanto acompanhamos o final do colegial e a partida para a faculdade, deixando na saída do cinema uma vontade de acompanhar os próximos anos dos quatro amigos.

                                                                                                            

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