Título: Eu Me Possuo
Autor(a): Stella Florence
Editora: Panda Books
Nº de páginas: 182
“O fato de eu ter me sentido atraída por você, ter ido a sua casa, ter desejado transar com você, não significa que você poderia me violentar. Desejar um homem não é o mesmo que desejar ser estuprada por ele. Você disse que tem ido ao meu bar a m de se desculpar por alguma má impressão que tenha deixado em mim. Você não deixou uma má impressão, Gustavo. Você cometeu um crime. Talvez agora você me pergunte por que eu não te denunciei já que você é um criminoso. Naquela noite, eu dei um nó no meu vestido para disfarçar o rasgo que você fez e me limpei como pude no elevador. Fiquei perambulando pela rua meio tonta, depois entrei num táxi e fui para casa da minha avó. Fui direto para o chuveiro limpar aquilo de mim. Me senti suja, me senti culpada, me senti inferior, me senti até ruim de cama: carreguei por muito tempo acusações que serviam para você, não para mim. Minha falta de experiência me fez acreditar que a culpa era minha, que eu apertei algum botão maldito em você e que talvez sexo fosse aquele horror mesmo. Por isso eu me mantive em silêncio. Mas meu corpo gritava!”
Quando
recebi a indicação de leitura da Oasys Cultural, fiquei extremamente ansiosa pela
temática do livro. O estupro é um
tema muito peculiar e delicado de ser tratado. A escrita
ou o enredo mal narrados faz com que o livro se perca entre as páginas. Digo isso, pois já tive a oportunidade de ler outros livros
que retratavam esse tema.
O livro começa seis
anos depois de Karina ser violentada. Ela já se encontra “meio
resolvida”. Digo meio, pois há traumas que podem ser entendidos, mas nunca esquecidos.
Podemos nos afastar daquilo ou de quem nos fez mal e viver bem, mas, se um dia ele
retornar, as lembranças e os sentimentos também retornam. Karina
é uma jovem de vinte e poucos anos que está prestes a se formar em odontologia e
ganha a vida como estagiária em uma clínica. Ela vive um dilema em casa: uma mãe que vive pelo marido e um pai que deseja extremamente vê-la formada E la não
se encontra de
bem com sua vida, uma sobrevivência pacata
e sem muitos “mas”. Ela enxerga uma oportunidade de mudá-la quando sua amiga de
outras épocas precisa
de ajuda em seu bar nos finais de semana. Porém Karina não poderia imaginar que, com esse novo emprego, sua vida mudaria drasticamente. E, com essas mudanças, que seu passado poderia reencontrá-la.
A história começa a girar a partir daí. Nossa protagonista encontra a liberdade de ser quem sempre teve medo de
ser. Encontra um novo começo para a sua vida amorosa, mas descobre que nem tudo
são flores e que o passado nem sempre é só passado . Ele sempre
nos dá a oportunidade do acerto de contas.
Ao receber o livro e
começar a ler algumas partes aleatoriamente, percebi que ele retratava a vida da
personagem após o acontecimento. Para ser sincera, fiquei pensando como a autora desenvolveria a história e a
personalidade da protagonista. Isso me deu um pouco de receio e também muita
expectativa, uma
vez que a autora só conta como tudo aconteceu no meio do livro. Minhas
expectativas em alguns pontos foram alcançadas, mas em alguns outros nem tanto. Em muitas passagens pensei como a protagonista, que passou por algo tão
ruim, aceitou ir a certos lugares. Apesar de sua liberdade ser bem explicada, não consegui entender. Também, em algumas partes, a personagem me irritou um pouco com certas atitudes . Só com o decorrer da
leitura fui
me conformando e percebendo que fazia parte da personalidade dela.
O livro conta uma história cotidiana onde a personagem vai
aprendendo a se encontrar, a ser mulher, a reforçar que o que aconteceu
não foi culpa dela e sim do homem que a machucou.
" A força que
hoje me habita é criação minha. Eu me possuo. Ninguém mais."
Como havia
começado essa resenha, o tema do livro é muito delicado e faz com que os leitores
reflitam sobre ele. Fiquei várias e várias horas, após o término da
leitura, pensando em quantas mulheres no mundo tem esse desgosto em suas vidas, e quantas
conseguiram superar e continuar suas vidas com esse trauma.
“Eu Me Possuo” traz uma narrativa de 182 páginas em terceira pessoa, com uma linguagem simples e ágil. É um livro que se lê em poucas horas. A autora consegue retratar
com clareza o dia a dia e como
a vida de Karina evolui para ela se tornar independente, uma mulher completa no lado amoroso.
O acerto de contas com o seu passado é muito bem retratado e muito comovente, e isso desperta ainda mais a reflexão do livro.
Recomendo à todos que gostem de
livros que despertam reflexões de
temas fortes, mas com uma escrita leve.
Oi Bella! Eu não conhecia a obra, e fiquei realmente curiosa para conhecer. Gosto de livros que trazem temas reais e fortes.
ResponderExcluirVai para a lista.
Beijos
http://lua-literaria.blogspot.com.br/
Bella, obrigada pelo espaço, o carinho e a delicadeza em compreender Karina. "Fiquei várias e várias horas, após o término da leitura, pensando em quantas mulheres no mundo tem esse desgosto em suas vidas, e quantas conseguiram superar e continuar suas vidas com esse trauma." Eu sou uma dessas mulheres, minha história se confunde com a de Karina, e ter gerado essa reflexão me deixa muito emocionada. Beijo!
ResponderExcluirOlá, Bella.
ResponderExcluirEu li duas resenhas desse livro e a sua opinião ficou no meio. Uma delas falou sobre a personagem ir a esses lugares que você citou e dormir com qualquer um e a outra já falou sobre a necessidade dela mostrar que é dona de seu corpo e faz com el o que quiser não o que os outros querem. Não sei se leria, ainda estou na dúvida.
Blog Prefácio